Vender a casa sem sair: habitação sénior com novas soluções no mercado Empathia propõe modelo focado na venda com usufruto vitalício do imóvel. Pedro Almeida Cruz, CEO da empresa, explica em entrevista. 08 mai 2025 min de leitura Num país envelhecido, onde a longevidade é cada vez mais uma realidade e um desafio acrescido para muitas das pessoas que em Portugal têm de viver com recursos financeiros mais reduzidos na terceira idade, a Empathia propõe uma nova forma de olhar para a habitação sénior: não como um bem imóvel imutável, mas como um recurso valioso que pode ser colocado ao serviço de quem o construiu ou comprou. Ou seja, e se a casa, para tantos o maior investimento de uma vida, pudesse ser também o instrumento que assegura uma reforma mais tranquila, o apoio a filhos e netos, ou até a realização de sonhos adiados? Através de um modelo baseado na venda da habitação com manutenção do usufruto vitalício, a empresa fundada por Pedro Almeida Cruz quer destacar-se pela oferta de uma proposta simples, mas disruptiva: transformar património imóvel em qualidade de vida, segurança e liberdade, sem que os seniores tenham de sair das suas casas, ao mesmo tempo que conseguem uma rentabilidade extra. "Como é que vamos cuidar das pessoas que envelheceram a cuidar de nós?". A pergunta foi o ponto de partida para a criação da Empathia. Ao idealista/news, o fundador e CEO da empresa explica que um dos grandes objetivos é, à semelhança de outros países, mudar a forma como o mercado imobiliário nacional olha para população sénior, trazendo para o centro da discussão valores como dignidade, autonomia e justiça social. Para Pedro Almeida Cruz a missão é clara: usar a casa não só como refúgio, mas como ativo social e emocional, garantindo que os últimos anos de vida sejam vividos com maior bem-estar. Mais do que uma solução de sustentabilidade financeira – a pessoa pode vender a sua habitação própria mantendo o seu usufruto vitalício e ainda beneficiar do dinheiro obtido com a venda, utilizando-o da forma que quiser – a proposta da Empathia envolve um ecossistema de bem-estar que acompanha quem adere ao modelo, segundo o responsável. Desde serviços de saúde, atividades culturais e acompanhamento personalizado, numa abordagem holística que pretende garantir uma velhice ativa e feliz, sem obrigar ninguém a abdicar do seu lar, das suas memórias ou da sua identidade. Este formato já tem vindo a conquistar reconhecimento — dentro e fora do setor — tendo sido recentemente distinguido com o Prémio de Responsabilidade Social no Salão Imobiliário de Portugal (SIL 2025). Mas o maior desafio, admite o fundador, continua a ser cultural. “A casa é um bem emocional, muitas vezes intocável. É preciso tempo, escuta e confiança para mudar mentalidades”, refere. Freepik Como surgiu a ideia de criar a Empathia? A Empathia nasce de uma preocupação real, que é também pessoal: como é que vamos cuidar das pessoas que envelheceram a cuidar de nós? Olhamos para os dados demográficos e percebemos que o envelhecimento da população não é apenas uma tendência, é uma transformação profunda da nossa sociedade. Verdadeiramente, hoje vivemos mais tempo, e isso é um feito extraordinário da civilização. Mas viver mais tempo não basta — é preciso viver melhor, respondendo também à questão de como garantir que os últimos 20 ou 30 anos de vida sejam vividos com conforto, dignidade e autonomia. Criámos um modelo habitacional que respeita o valor simbólico e emocional da casa, ao mesmo tempo que resolve um problema financeiro real enfrentado por milhares de pessoas seniores A ideia surgiu, precisamente, do desejo de dar uma resposta concreta a essa necessidade, utilizando o setor imobiliário como plataforma para o desenvolvimento social. Assim, olhamos para a casa de cada família e percebemos que esta é o seu maior refúgio — mas achamos que também deve ser vista como o seu maior ativo porque, em boa verdade, é o “maior investimento que fizeram na vida”. Foi com essa visão que criámos um modelo habitacional que respeita o valor simbólico e emocional da casa, ao mesmo tempo que resolve um problema financeiro real enfrentado por milhares de pessoas seniores em Portugal. Percebemos que era possível criar um modelo que transformasse esse património em conforto e qualidade de vida, sem exigir que as pessoas abrissem mão da sua história, dos seus vizinhos, do seu lugar, trazendo assim uma novidade absoluta no mercado imobiliário, colocando a longevidade e o envelhecimento no centro da discussão deste mercado. Pusemos em prática, desta forma, a venda da habitação com manutenção de usufruto vitalício, como modelo de negócio imobiliário com impacto social. Freepik Referem que pretendem colmatar uma lacuna no mercado imobiliário português? Em que sentido? Hoje, o mercado oferece essencialmente soluções imobiliárias relacionadas com a habitabilidade ou o investimento, mas pouco ou nada existe para responder à longevidade e ao envelhecimento com qualidade e com segurança, na própria casa. É um setor que, do ponto de vista privado, quase ignora a dimensão social da habitação da população sénior. E essa é a lacuna que a Empathia pretende agora preencher, apresentando-se com um modelo de negócio privado, mas socialmente relevante. A nossa proposta passa, assim, por reconhecer o Lar como um instrumento de justiça social. A casa deixa de ser apenas um bem imóvel para se tornar uma base para envelhecer com dignidade. Não existia, até agora, uma solução pensada especificamente para quem quer continuar a viver na sua casa, mas que precisa, ao mesmo tempo, de transformar esse valor em rendimento, serviços ou qualidade de vida. A Empathia traz essa resposta, apresentando-se como uma dimensão humana inigualável neste setor. A casa deixa de ser apenas um bem imóvel para se tornar uma base para envelhecer com dignidade O conceito de venda com usufruto não é novo. O que distingue a vossa abordagem das soluções já existentes? É verdade que o conceito de usufruto já existia, mas quase sempre como uma solução utilizada para fins familiares (normalmente, entre pais e filhos) ou em situações muito pontuais. Nunca foi tratado como um verdadeiro negócio global, gerador de ganhos e de impactos sociais. Mas o que nos distingue verdadeiramente é o modelo de impacto e a abordagem holística que apresentamos ao mercado. Na Empathia não nos limitamos à componente financeira da venda com usufruto — construímos também um ecossistema de bem-estar à volta da pessoa sénior. Desde serviços de saúde e bem-estar, até experiências culturais, o objetivo é assegurar uma vida longa, ativa e com qualidade. Tudo com base em valores como confiança, humanidade e empatia, indo muito além de uma simples transação imobiliária. Na Empathia não nos limitamos à componente financeira da venda com usufruto — construímos também um ecossistema de bem-estar à volta da pessoa sénior. Acreditamos assim que o verdadeiro valor da sociedade está nas relações e no cuidado — e é isso que queremos entregar com este projeto. Foi certamente esta visão e este modelo que foi muito apreciado pelo júri do recente Salão Imobiliário de Portugal (SIL), ao ter atribuído à Empathia o Prémio Responsabilidade Social 2025 na Gala daquele Salão. Freepik Poderia explicar detalhadamente como funciona este processo e quais são os principais benefícios para os proprietários seniores? O funcionamento é bastante simples: com o auxílio da Empathia, o proprietário sénior vende a sua casa a investidores (particulares ou institucionais), mas mantém o direito legal de viver nela até ao fim da sua vida, consagrado pelo usufruto vitalício. Em contrapartida, recebe um montante significativo à cabeça, de forma transparente e ajustado ao valor de mercado do imóvel nessas condições. Este montante pode ser utilizado livremente, sem restrições. Pode servir para aumentar o rendimento mensal, para apoiar os filhos ou netos, para pagar cuidados de saúde ou até para realizar sonhos há muito adiados. O principal benefício, no fundo, é poder transformar património em liberdade e bem-estar, sem abrir mão da utilização do seu Lar. Isso traduz-se em mais conforto, maior segurança e em um envelhecimento mais ativo e feliz. O negócio é recente. No entanto, qual é o perfil típico dos proprietários que procuram a vossa solução? Que principais motivações têm ao vender a sua casa mantendo o usufruto? Temos sido contactados por pessoas com mais de 75 anos, reformadas, que viveram grande parte das suas vidas na mesma casa. Muitas delas veem os seus rendimentos reduzidos, mas ao mesmo tempo possuem imóveis pagos, localizados em zonas valorizadas das cidades. Quando ouvem falar da Empathia e do seu projeto transformador, parece-lhes uma boa ideia beneficiar da valorização da sua casa, monetizando-a, mas sem deixar de a utilizar. Temos sido contactados por pessoas com mais de 75 anos, reformadas, que viveram grande parte das suas vidas na mesma casa. As motivações para procurarem a Empathia variam, e cada caso que nos é apresentado tem, verdadeiramente, as suas próprias motivações particulares. Mesmo assim, podemos tipificar os 4 perfis mais relevantes: garantir uma velhice financeiramente mais tranquila; antecipar a herança antes que esta deixe divisões futuras; ajudar financeiramente os filhos; ou ainda ter dinheiro para resolver rapidamente um problema de saúde grave. Em todos os casos há um denominador comum — a vontade de permanecer no espaço onde viveram a vida inteira, mas com mais meios e mais tranquilidade para o futuro, vendo neste modelo uma forma de envelhecer com mais dignidade. Freepik Como pretendem chegar à população sénior que pode estar interessada neste modelo, mas ainda tem receios ou dúvidas? Sabemos que estamos a falar com uma geração que, muitas vezes, encara a casa como intocável. É um bem emocional, construído e pago com sacrifício. Por isso, a nossa comunicação é feita com muito respeito e transparência, cumprindo em rigor os nossos valores: Confiança, Humanidade e Empatia. O processo é sempre feito com tempo, com calma e com a garantia de que todas as partes envolvidas estão confortáveis Com a ajuda dos nossos incansáveis parceiros, que entenderam e apoiaram incondicionalmente o nosso projeto desde o primeiro minuto, estamos a fazer o nosso caminho de comunicação, transmissão de confiança e abertura de mentalidades, sobretudo porque este é um negócio completamente novo e transformador. O processo é sempre feito com tempo, com calma e com a garantia de que todas as partes envolvidas estão confortáveis. Sempre que o possam fazer, pedimos também a cada cliente que fale com os seus familiares mais próximos, que debata o assunto e se aconselhe com especialistas, antes mesmo de avançar. Já tivemos, inclusive, casos em que aconselhámos não avançar porque sentimos hesitação por parte dos nossos clientes ou dos seus herdeiros. Não queremos que haja qualquer dúvida no processo. Esta comunicação aberta tem gerado, naturalmente, confiança. Freepik Que garantias oferecem aos proprietários em termos de segurança jurídica e estabilidade financeira ao longo dos anos? Todas as transações são realizadas com a máxima transparência e segurança jurídica. Sabemos que o usufruto vitalício está consagrado no Código Civil, e isso dá total confiança a quem vende. O usufruto é registado legalmente, juntamente com a escritura de compra e venda da casa, garantindo o direito de o proprietário viver na casa para sempre, mesmo após a venda. Para oferecer mais garantias e dissipar dúvidas que possam existir, além do nosso know-how, aconselhamos sempre os nossos clientes a consultarem um advogado de inteira confiança deles. Em nenhum caso, como era de esperar, houve oposição ou dúvidas por parte de quem quer que fosse. O usufruto é registado legalmente, juntamente com a escritura de compra e venda da casa, garantindo o direito de o proprietário viver na casa para sempre, mesmo após a venda. Quais são os critérios que a Empathia utiliza para avaliar e determinar o valor de compra dos imóveis neste modelo de negócio? A avaliação proposta aos nossos clientes é feita de forma rigorosa e justa. Para o apuramento do valor de mercado do imóvel consideramos a sua localização, tipologia, estado de conservação, atratividade, entre outros fatores. Em complemento, e para apurarmos o valor de usufruto, usamos variáveis muito particulares que têm em conta a idade e o perfil do proprietário, a sua expectativa de longevidade, entre outras variáveis que pretendemos não tornar públicas. Por fim, e para apuramento do valor final do imóvel com usufruto, utilizamos todas aquelas variáveis incorporadas em modelos de cálculos atuariais e financeiros, que nos asseguram um valor justo para o vendedor, e uma atratividade para os investidores. Freepik Que tipo de investidores têm demonstrado maior interesse no vosso modelo e como garantem que este investimento se mantém sustentável a longo prazo? O nosso modelo tem atraído investidores que procuram impacto social com retorno financeiro. São, sobretudo, investidores institucionais e fundos com foco em ESG (Environmental, Social and Governance), mas também investidores privados com uma consciência social apurada. Não querendo entrar em detalhes do que assegura a viabilidade do nosso modelo, podemos, ainda assim, referir que a sustentabilidade do negócio assenta numa combinação de 3 fatores: o valor gerado para cada um dos nossos clientes seniores (que é o nosso foco principal), a previsibilidade do retorno para os investidores e o impacto social positivo para a sociedade. Criámos assim um modelo que é financeiramente viável, eticamente responsável e socialmente necessário. E isso é o que o torna resiliente. Quais os principais desafios que preveem enfrentar na implementação deste modelo de negócio no país? O desafio principal é cultural. Ainda existe muita resistência à ideia de vender a casa por parte dos próprios seniores e, muitas vezes, também por parte dos seus familiares. É um tema sensível, que exige empatia, confiança, escuta e tempo. Estamos convictos que, com tempo, vários exemplos concretos e resultados visíveis, este modelo vai-se afirmar como uma das maiores inovações sociais no setor imobiliário português. Mas estamos preparados. Acreditamos que os grandes desafios são, muitas vezes, também as maiores oportunidades de transformação. Fonte: Património em troca de qualidade de vida sénior — idealista/news Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado