O luxo de viver na Foz do Porto: “Criar uma comunidade é o objetivo” Em entrevista ao idealista/news, o CEO da Nomad Capital revela os segredos dos seus projetos residenciais de luxo 16 jul 2025 min de leitura Como será viver num condomínio residencial sustentável, repleto de famílias portuguesas que se conhecem e criam laços entre si? É precisamente este novo conceito que Alexandre Mansour, CEO da Nomad Capital, quer criar no Nomad Eden, o empreendimento habitacional de ultraluxo que está a nascer na Foz, a “jóia da coroa” do Porto. “Construir uma comunidade é a nossa principal prioridade para este projeto, sendo até mais importante do que os próprios apartamentos”, conta o responsável em entrevista ao idealista/news. São, sobretudo, famílias portuguesas que vivem no Porto há várias gerações que estão a comprar casa no Nomad Eden. “As famílias procuram ter um maior sentido de comunidade, de experiências e não apenas todas as comodidades que oferecem estes apartamentos”, como piscinas, jardins, varandas, espaços ao livre, domótica e vários equipamentos que promovem a eficiência energética, explica ainda o investidor francês, que já vive em Portugal há 10 anos. “As famílias procuram ter um maior sentido de comunidade, de experiências" Alexandre Mansour acredita que enquanto Portugal continuar atrativo tanto para os residentes locais, como para os estrangeiros, haverá mais casas a serem construídas no país. E para famílias com vários orçamentos. “O segmento de luxo tem imenso potencial. E provavelmente, num futuro próximo, o segmento médio poderá também ser interessante”, considera o responsável, admitindo que tem “em mente há vários anos” construir casas acessíveis. Para que todo este potencial do país continue a ser aproveitado, “o Governo deve continuar a transmitir a mensagem de que Portugal é um lugar seguro, que é um país estável, que é fácil fazer negócios aqui, que há muitas oportunidades e que a inovação é bem-vinda”, defende Alexandre Mansour, CEO da Nomad Capital, nesta entrevista ao idealista/news, onde fala dos seus projetos imobiliários e possíveis caminhos futuros. Nomad Eden, no PortoCréditos: MINO | Nomad Capital A Nomad Capital foi fundada há cerca de 6 anos. Que oportunidades viu no mercado imobiliário para dar este passo? Mudei-me para Portugal em 2015. Portanto, a empresa foi criada há seis anos, a Nomad Capital, sendo uma spin-off de uma empresa que ainda hoje existe, a Optylon Capital. Há dez anos, quando cheguei ao país, vi algumas oportunidades, especialmente no centro histórico de Lisboa. O turismo estava em alta, Portugal estava a tornar-se mais atrativo, o programa vistos gold tinha sido implementado há pouco tempo e os bancos também estavam animados em financiar novos projetos imobiliários para revitalizar Lisboa e o centro da cidade. Havia um mix de oportunidades para comprarmos edifícios históricos incríveis em Lisboa e dar-lhes uma nova vida, sendo que o programa golden visa ajudou a encontrar compradores interessados. Alguns anos depois, o interesse por Portugal cresceu para lá de Lisboa, passando também para o Porto e para o Algarve. E nós também vimos oportunidades incríveis nestas localizações. Os investidores institucionais começaram a mostrar interesse em investir em Portugal e em participar no crescimento do imobiliário do país. E nós ajudámos enquanto parceiro local desses investidores estrangeiros. Tivemos a oportunidade de adquirir imóveis históricos em Lisboa, no Porto e locais incríveis no Algarve. "Os vistos gold são um programa do passado, porque as necessidades de Portugal evoluíram" Há um antes de depois no investimento imobiliário em Portugal com o fim dos vistos gold? Os vistos gold são um programa do passado, porque as necessidades de Portugal evoluíram. O programa golden visa foi muito bom para tornar Portugal um país conhecido pelo mundo inteiro. Mas não acredito que, a longo prazo, tenha sido um programa que beneficiou realmente o país, talvez por isso tenha sido adaptado. Até porque a procura também mudou. Já tínhamos antecipado o fim dos vistos gold e começámos a ver potencial em casas de férias no Algarve, mas também em habitações permanentes no Porto para residentes locais. O mercado imobiliário é muito cíclico. Mas Portugal é um país de oportunidades, muito recetivo à inovação, e cabe-nos a nós adaptar-nos e entender onde está a procura, onde está o potencial. E acho que temos conseguido fazê-lo, por isso o fim dos vistos gold acabou por não ter qualquer impacto no nosso negócio. Muito pelo contrário: deu-nos a oportunidade de nos adaptarmos e de procurar novos mercados onde conseguimos ter mais impacto para os residentes e para a economia. Nomad Eden, no PortoCréditos: MINO | Nomad Capital Explique-nos o conceito de "ultimate branded serviced living". O que distingue as vossas casas? O nosso foco está nas branded residences. E Portugal é, de facto, um local próspero para este conceito de branded residentes, estando alguns anos à frente do resto da Europa. E, como tudo, cada novo projeto amadurece com o tempo. Considero que o maior problema das branded residences é a falta de flexibilidade. Há sempre um operador hoteleiro que tem uma agenda que entra em conflito com o comprador final, ou porque querem cobrar taxas de condomínio elevadas ou porque querem incluir opções de restauração ou até porque tentam limitar o uso para que possam arrendar as casas. Tudo isso creio que cria um pouco de fricção com a maioria dos clientes que compram branded residentes, que procuram flexibilidade nas casas de férias ou em habitações permanentes. Os nossos projetos são flexíveis no sentido em que o nosso único foco é o comprador final e não a agenda de um operador hoteleiro. E é isso que nos torna especiais. Escolhemos o Porto como enquanto o nosso “mercado teste”, porque sentimos que aqui teríamos maiores possibilidades de alcançar os mercados locais, mas também futuros residentes. "Temos tecnologias e métricas que permitem que a sustentabilidade também seja lucrativa" Como é que a sustentabilidade impacta o desenvolvimento dos vossos projetos? Algo que também torna o Nomad Eden especial é que estamos a usá-lo como teste para mostrar o que é possível fazer em termos de sustentabilidade. As construções consomem energia e recursos, e temos de começar a pensar sobre como podemos ter o menor impacto ambiental possível, enquanto maximizamos o impacto nos futuros residentes. Hoje, temos tecnologias e métricas que permitem que a sustentabilidade também seja lucrativa – é isso que estamos a tentar provar. Por exemplo, no Nomad Eden, onde estamos a arrancar as obras, vamos reciclar o betão do edifício existente, e vamos vender e reciclar os metais que fazem parte do imóvel. Também vamos procurar mitigar o consumo de energia para os futuros residentes, incluindo 12.000-13.000 metros quadrados de painéis solares, bem como baterias em todos os apartamentos para armazenar energia durante o dia e utilizá-la durante a noite. Esperamos inspirar outros promotores imobiliários a utilizar este tipo de tecnologia nos seus empreendimentos residenciais. Além disso, também vamos incluir domótica nas casas, tanto para gerir a produção e consumo de energia, como também para gerir o uso do ar condicionado, o carregamento dos carros elétricos, dos eletrodomésticos e das cortinas e estores. Vamos usar a domótica para que os compradores sejam conscientes do que estão a utilizar em termos de energia e recursos, mas também sobre o que estão a produzir. Nomad Eden, no PortoCréditos: MINO | Nomad Capital Quem é que compra mais as vossas branded residences? Portugueses ou estrangeiros? De que nacionalidades? O que mais valorizam? A maioria dos compradores do Nomad Eden são portugueses. Cerca de dois em cada três vivem muito perto deste projeto. E temos muito orgulho disso. Muitos são donos de empresas de variadas indústrias, famílias que vivem no Porto há várias gerações e que não querem mudar para outra cidade. E vêem que há uma transição necessária de viver numa moradia para viver num condomínio, o que lhes traz menos custos com o pessoal e com a manutenção, e mais tranquilidade. As famílias procuram ter um maior sentido de comunidade, de experiências e não apenas todas as comodidades que oferecem estes apartamentos. Geralmente, procuram casas maiores – T3, T4 ou T5 - para que possam continuar a ter o espaço a que estavam habituadas. Depois, sentimos uma forte procura por expatriados portugueses que estão a viver em vários países, mas com laços no Porto, que querem ter uma segunda habitação nesta zona, com um ou dois quartos. O terceiro tipo de cliente são os estrangeiros que procuram viver no Porto para expandir o seu negócio ou para criar uma empresa. Estes clientes internacionais procuram qualquer tipologia e vêm de países como o Reino Unido, Irlanda, França, Bélgica e Alemanha. Ainda assim, nosso objetivo é tentar limitar a quantidade de estrangeiros a comprar casa no Nomad Eden, porque queremos que seja um produto português e que a maioria dos compradores seja do Porto. Queremos provar que esse mercado existe, que está aberto a novos produtos e experiências. "Construir uma comunidade é a nossa principal prioridade para este projeto, sendo até mais importante do que os próprios apartamentos" O que mais diferencia o vosso projeto de ultraluxo Nomad Eden? O principal atributo deste projeto é o local onde está inserido, na Foz, no meio do triângulo dourado. É uma espécie de jóia de coroa do Porto e também uma das jóias da coroa de Portugal. Mas o que o torna mesmo especial são os grandes espaços, as ‘amenities’ e a sustentabilidade. E mais importante ainda é a experiência futura que o Nomad Eden vai proporcionar às famílias. Construir uma comunidade é a nossa principal prioridade para este projeto, sendo até mais importante do que os próprios apartamentos. Portanto, o nosso objetivo é ver os futuros residentes e os seus filhos a tornarem-se melhores amigos, até construírem uma família. Se conseguirmos isto, acho que será o nossos maior presente. Qual é a vossa estratégia para criar uma comunidade no Nomad Eden? Bem, há duas maneiras. Primeiro, a equipa que está a desenvolver este projeto partilha e concorda com esta visão, o que é realmente importante. Depois, estamos a conhecer cada comprador um a um, onde estão a viver, quais as são as suas necessidades e o que estão à procura. Desde muito cedo, queremos colocar estas pessoas em contacto. Temos muitos profissionais de várias indústrias interessados no projeto e prestamos atenção ao que estão a fazer a nível profissional, enquanto empresários, para tentar usar os serviços desses clientes para o nosso próprio desenvolvimento. Assim, criamos um canal muito próximo entre nós e os nossos clientes, bem como entre os compradores, o que nos permite não controlar, mas orientar a forma como a comunidade vai parecer no futuro. Nomad Bay, AlgarveCréditos: João Pita | Nomad Capital Quantas branded residences vão colocar no mercado nos próximos anos? Qual é o investimento associado? No último ano, temos entregado alguns projetos interessantes. O Masana, em Olhos de Água, no Algarve, é um complexo de apartamentos de estilo mediterrânico, boémio, à beira-mar, que entregámos no ano passado e vai abrir este verão. Este ano vamos entregar o Nomad Bay no Carvoeiro, Algarve, que é um complexo com 74 apartamentos. Já arrancámos com a construção do Nomad Eden, com 42 apartamentos. E esperamos começar a comercializar o Nomad Reserve, em Vila Nova de Gaia, muito em breve. Este projeto vai nascer num terreno com 12 hectares em Canidelo, que foi comprado há dois anos. O objetivo é construir 42 apartamentos e deixar cerca de oito hectares como reserva natural para utilização dos residentes. Nos últimos seis anos, devemos não estar longe dos 300 milhões de euros de valor de desenvolvimento bruto, o que é bastante excecional tendo em conta que a empresa começou do zero. Estou muito orgulhoso disso e do impacto que temos tido nas comunidades locais. "Neste momento, é muito difícil encontrar investimentos certos na capital, porque as margens são muito pequenas" Vão lançar mais empreendimentos de luxo em breve? Quanto é que pretendem investir nos próximos anos? Todos estes conceitos podem ser replicados. O nosso foco passa por implantar o conceito do Nomad Eden noutras cidades em Portugal e na Europa. E esperamos replicar também o conceito do Nomad Reserve, se as vendas forem um sucesso. Agora, estamos a procurar projetos como o Nomad Eden em Lisboa e no Algarve, com o objetivo de criar habitações de luxo sem restrições, sem operador hoteleiro. O nosso plano de expansão é cerca de 300 a 400 milhões de euros para os próximos três ou quatro ano anos. Não estamos a tentar ser ambiciosos, mas sim muito exigentes em relação aos projetos que escolhemos. Nomad Reserve, Vila Nova de GaiaCréditos: JFCG Arquitectos Associados Lda | Nomad Capital Têm já algum projeto em mente para investir em Lisboa, no Algarve ou na Madeira? Em Lisboa, estamos a analisar alguns, mas neste momento é muito difícil encontrar investimentos certos na capital, porque as margens são muito pequenas. Portanto, temos estado a analisar vários ativos, mas infelizmente ainda não conseguimos identificar nenhum. Em relação ao Algarve, estamos a chegar ao fim das negociações sobre uma propriedade excecional. Admito que nunca estive nos Açores nem na Madeira, embora tenha viajado muito por Portugal Continental. Não fechamos a porta a estas localizações, apenas ainda não estudámos os mercados. "Quando há instabilidade noutros países do mundo, vemos um maior fluxo da procura para Portugal, o que é extremamente poderoso para o país" O contexto internacional instável tem tido alguma influência nos negócios? Algo que senti nos últimos anos é que quando há instabilidade, seja política, por conflitos armados, seja relacionada com a saúde, Portugal é visto como um refúgio seguro. Vai contra a tendência. Portanto, Portugal é visto como um país de estabilidade, segurança e oportunidades. Quando há instabilidade noutros países do mundo, vemos um maior fluxo da procura para Portugal, o que é extremamente poderoso para o país. Por exemplo, quando há instabilidade polícia nos EUA, vemos de imediato um aumento da procura em Portugal. Aconteceu o mesmo durante a pandemia e até em momentos de incerteza financeira no Reino Unido ou em França. Espero que Portugal se mantenha enquanto um refúgio seguro nos próximos anos, porque é algo fantástico para o país. Nomad Bay, AlgarveCréditos: João Pita | Nomad Capital Como perspetivam a evolução do mercado imobiliário de luxo em Portugal? Enquanto Portugal se mantiver atraente não só para estrangeiros, mas também para os residentes locais, haverá procura. Acho que o segmento de luxo tem imenso potencial. E provavelmente, num futuro próximo, o segmento médio poderá também ser interessante. Também seria interessante trabalhar a habitação social em Lisboa, porque é uma cidade que está bem conectada e onde há residentes de todas as esferas sociais, o que geralmente é muito produtivo e positivo a longo prazo. Portanto, espero ver alguma procura nessa área também. "As margens são um pouco menores para o segmento médio e baixo, por isso os tempos de aprovação dos projetos tornam-se extremamente importantes" Pretendem apostar em outros perfis de mercado, nomeadamente para a classe média, com casas mais acessíveis? Porquê? Sim, apenas precisamos de ver como estruturar esses projetos e ver onde está o potencial. Temos isso em mente há vários anos. Ainda não encontrámos a oportunidade certa. As margens são um pouco menores para o segmento médio e baixo, por isso os tempos de aprovação dos projetos tornam-se extremamente importantes. Trata-se de encontrar uma boa localização para comprar, mas também onde o tempo de obtenção de licenças, para construir e comercializar, seja curto o suficiente para que o investimento faça sentido. O que poderia ser feito para incentivar a construção de casas acessíveis? É muito simples. Acho que a inflação e os custos de construção precisam de parar de subir. Precisamos de ter mais estabilidade nos custos de construção em geral, porque se não conseguirmos perspetivar um ou dois anos, então é muito difícil arriscar e fazer esses investimentos. Nomad Eden, no PortoCréditos: MINO | Nomad Capital Como vê possibilidade de reduzir o IVA na construção em Portugal? Os impostos são essenciais para o bem-estar de qualquer país ou Governo. A redução do IVA na construção, acho fantástico enquanto promotor. Mas ao mesmo tempo precisamos de ter em conta a qualidade de infraestruturas que temos em Portugal, a incrível rede rodoviária e de transportes, a internet mais rápida da Europa. Temos acesso a uma das melhores educações do mundo e também a serviços de saúde gratuitos. Temos acesso às nossas câmaras municipais e aos nossos responsáveis. E tudo isto tem um custo. Portanto, nós, enquanto promotores imobiliários, também estamos a beneficiar de todos estes investimentos que foram feitos por Portugal desde 2010. Claro que não gosto de pagar impostos, em concreto. Mas sei que em Portugal estes impostos são aplicados de forma eficaz, pelo que a longo prazo todos beneficiamos com isso. "O Governo deve continuar a transmitir a mensagem de que Portugal é um lugar seguro, que é um país estável (...), que há muitas oportunidades" Que mensagem gostaria de deixar ao novo Governo português? O Governo deve continuar a transmitir a mensagem de que Portugal é um lugar seguro, que é um país estável, que é fácil fazer negócios aqui, que há muitas oportunidades e que a inovação é bem-vinda. O que importa é que estes objetivos estejam alcançados e sejam reconhecidos, porque levou 15 anos para Portugal construir esta reputação. E se for divulgada de forma correta, esta reputação fará de Portugal um lugar incrível para viver, para estudar e para investir. Devemos tentar manter este momento incrível em Portugal, porque até vai contra o que se vê em todos os outros países europeus neste momento. Fonte: Viver o luxo junto à Foz do Porto: “Criar uma comunidade é o objetivo” — idealista/news Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado