Miguel Ibraim da Rocha cresceu rodeado de estaleiros e carpintarias, herança direta da família que construiu durante mais de meio século. Hoje, essa origem prática reflete-se na identidade do trabalho do arquiteto fundador do atelier UNUM: uma arquitetura rigorosa, funcional e autêntica.
"Acredito que a arquitetura é um instrumento atuante na construção e modo de vida de uma sociedade", explica Miguel Ibraim da Rocha em entrevista ao idealista/news. Com projetos marcantes como a Casa da Democracia Local de Valongo, o edifício Metyis em Gondomar e a Residência Universitária de Aveiro, o atelier UNUM tem vindo a afirmar-se, conciliando a dimensão técnica com uma busca constante pelo belo e pelo sentido humano do espaço.
"A boa arquitetura é a que responde à função para a qual foi pensada. Pode ter diferentes formas e estilos, mas, no essencial, deve servir as pessoas que a habitam, sejam moradores, trabalhadores ou visitantes."
Esta é uma conversa sobre o legado familiar que o inspirou, o valor da autenticidade no desenho, os desafios da boa arquitetura e a ambição dos projetos futuros.
Casa da Democracia Local de Valongo
Casa da Democracia Local de Valongounum
O que o levou à arquitetura?
Essa é uma questão curiosa. A minha família teve, durante 50 anos, uma empresa construtora, e não só construtora, como também promotora das suas próprias obras. Desde muito novo, nasci neste ambiente da construção e da madeira. O meu pai era reconhecido na carpintaria, que era a principal área da empresa. As minhas primeiras memórias estão ligadas a isso: o estaleiro, o cheiro da obra, o som das ferramentas. A arquitetura surgiu de forma natural, como consequência dessa infância e juventude tão ligadas ao mundo da construção. Já adulto, e depois de ter trabalhado também nessa empresa familiar, iniciar-me como arquiteto foi um passo lógico, quase inevitável.
Há um traço muito reconhecível no seu trabalho. Sente que já há uma assinatura própria?
Isso é um elogio que agradeço. Os arquitetos gostam de ser reconhecidos por um determinado traço, e se alguém externo ao gabinete identifica essa linha, é um bom sinal. Procuramos sempre uma coerência formal, uma linha clara que nos distingue. Projetos como a Casa da Democracia Local, em Valongo, o edifício Metyis em Gondomar, ou a residência universitária de Aveiro têm, de facto, algo em comum. São edifícios muito diferentes entre si, um mais orgânico, outro mais regular, mas há sempre uma linguagem que os une. Essa identidade é fruto de uma busca constante pela autenticidade na nossa arquitetura, partilhada por toda a equipa.
Casa da Democracia Local de Valongo obra
Casa da Democracia Local de Valongo |unum
O que é, para si, uma “boa arquitetura”?
A boa arquitetura é a que responde à função para a qual foi pensada. Pode ter diferentes formas e estilos, mas, no essencial, deve servir as pessoas que a habitam, sejam moradores, trabalhadores ou visitantes. Costumo dizer que a arquitetura está no centro da vida das pessoas: estamos sempre dentro de um edifício, seja ele uma casa, um escritório ou um espaço público. Quando um edifício cumpre a sua função e, ao mesmo tempo, tem uma identidade própria, que traduz o olhar e o pensamento de quem o desenhou, então estamos perante boa arquitetura. E há, claro, o elemento do “belo”. A função é essencial, mas o belo também é. Quando se junta o belo à função, temos, para mim, a verdadeira arquitetura.
Edifício Metyis
Edifício Metyisunum
Falou da Casa da Democracia Local e da Metyis. Que projetos considera mais marcantes na história do atelier?
O edifício da Metyis, em Gondomar, é um dos nossos maiores motivos de orgulho. É um campus digital, muito regular formalmente, porque o dono de obra queria um edifício simétrico, de grande impacto e harmonia. O resultado foi muito positivo: a primeira fase já está concluída e o projeto recebeu três prémios internacionais. É um reconhecimento que nos deixa muito satisfeitos, porque vem de fora, é a sociedade a validar o nosso trabalho.
Mas há outro edifício que nos marcou profundamente: a Casa da Democracia Local de Valongo, a nova Câmara Municipal. É o oposto da METIS, nasce de uma forma orgânica, inspirada num fóssil, uma trilobite, e tem curvas e linhas que expressam o conceito da democracia local, da praça pública, do encontro. Está ainda em construção, mas é um projeto que nos emociona e que acreditamos que marcará a cidade e a região Norte.
E quanto ao futuro? Que projetos o entusiasmam neste momento?
Estamos numa fase em que trabalhamos muitos edifícios residenciais. Entre os projetos em curso, destaco dois edifícios em Gaia, com cerca de vinte pisos cada um. É um desafio completamente novo, as torres residenciais não são muito comuns no Norte, ao contrário de Lisboa. Essa escala obriga-nos a repensar tudo: a estrutura, a forma de habitar, o impacto urbano. É um projeto que está a mobilizar toda a equipa e que encaramos com grande ambição, queremos que mantenha o equilíbrio entre função, beleza e identidade, que é o que define o nosso trabalho.
Edifício Metyis
Edifício Metyisunum
A boa arquitetura é a que responde à função para a qual foi pensada. Pode ter diferentes formas e estilos, mas, no essencial, deve servir as pessoas que a habitam, sejam moradores, trabalhadores ou visitantes.

Fonte;Miguel Ibraim Rocha: "Quando se junta o belo à função, temos a verdadeira arquitetura" — idealista/news
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