Menos tempo, mais casas: “Industrializar é das ferramentas mais eficazes” A First Properties nasceu da ´joint-venture´ Sunny Casais e propõe uma mudança sistémica com foco na construção industrializada. 16 jun 2025 min de leitura Perante a crescente escassez de habitação acessível em Portugal – e em muitos outros países Europa fora –, a construção industrializada começou a afirmar-se como uma solução capaz de transformar estruturalmente o setor imobiliário. Redução de custos, maior rapidez na execução e controlo rigoroso de prazos e qualidade são alguns dos trunfos desta abordagem, que promete colocar no mercado mais casas — e a preços mais acessíveis — num curto espaço de tempo. A First Properties, que nasceu da evolução da 'joint-venture' Sunny Casais, destaca-se neste segmento e quer afirmar-se como referência ibérica neste novo paradigma de promoção imobiliária. A aposta na industrialização da construção — com soluções modulares, sistemas híbridos de betão e madeira, e uma forte componente de pré-fabricação — permite à empresa responder com agilidade às exigências de um mercado em rápida transformação, sem abdicar da qualidade ou da sustentabilidade, garante Luísa Figueiredo, da First Properties nesta entrevista ao idealista/news. “A construção industrializada é uma das ferramentas mais eficazes para acelerar a resposta à escassez de habitação, sobretudo em contextos urbanos pressionados. Do ponto de vista da promoção, permite-nos colocar mais rapidamente no mercado produtos residenciais ajustados à procura e com maior controlo de custo e prazo”, sublinha a responsável. Num contexto em que construir mais e melhor se tornou uma urgência social, a industrialização surge, portanto, como um modelo com capacidade real de resposta. Este sistema minimiza desperdícios, reduz o impacto ambiental e viabiliza projetos com margens mais sustentáveis — tanto para os promotores como para os consumidores —, permitindo “escalar soluções com qualidade e repetibilidade”. E foi assim que nasceu o conceito de “First Studios”, um modelo baseado na lógica do micro-living. Com ele, a empresa oferece “unidades habitacionais compactas, mas altamente funcionais, integradas em edifícios que disponibilizam áreas comuns alargadas e bem equipadas para uso partilhado”, permitindo uma versatilidade de aplicação, uma vez que “pode ser implementado em projetos residenciais, em regime de arrendamento, ou até conjugado com unidades de hotelaria”. First Properties A First Properties nasce da evolução da Sunny Casais. O que motivou esta mudança de nome e de posicionamento? A mudança para First Properties é um reflexo natural daquela que tem sido a evolução da nossa estratégia e posicionamento no setor. A Sunny Casais nasceu como uma joint-venture entre o Grupo Casais e a Sunny Real Estate, com o objetivo de explorar soluções diferenciadoras na promoção imobiliária. Ao longo do tempo, essa visão foi amadurecendo, e a industrialização da construção passou a estar no centro da nossa atividade. Até agora, operávamos sobretudo no segmento B2B, com forte presença na área da hotelaria e em projetos multidisciplinares. Com o crescimento da marca e a diversificação do portefólio, sentimos a necessidade de criar uma identidade mais forte e transversal, que nos permita comunicar de forma mais eficaz também com o público B2C, e afirmar a nossa visão junto de um mercado mais alargado. Este rebranding não é apenas uma mudança de nome, mas sim a afirmação clara do nosso compromisso com a inovação, sustentabilidade e eficiência. Queremos liderar a transformação do setor imobiliário, desafiando modelos tradicionais, colocando as pessoas e o planeta no centro das decisões, e desenvolvendo soluções integradas que respondam aos desafios habitacionais atuais e futuros. Queremos liderar a transformação do setor imobiliário, desafiando modelos tradicionais Quais são, na vossa perspetiva, os principais benefícios da construção industrializada face à construção tradicional? Para uma promotora como a First Properties, a construção industrializada representa uma alavanca estratégica para tornar os projetos mais rápidos, eficientes e sustentáveis. Este modelo permite-nos responder com maior rapidez, qualidade e sustentabilidade aos desafios do mercado atual — e isso traduz-se em benefícios concretos, tanto para quem constrói como para quem habita. Desde logo, destacamos a eficiência e previsibilidade do processo. Ao recorrer a componentes pré-fabricados em ambiente controlado, conseguimos reduzir significativamente os prazos de construção, controlar custos e minimizar os desvios em obra. Freepik Além disso, falamos de um modelo mais sustentável e circular. A construção industrializada reduz o desperdício de materiais, promove a reutilização de componentes e diminui a poluição sonora e o impacto nos espaços envolventes. Também aumenta a segurança em obra e reduz o risco de acidentes. Por fim, este tipo de construção permite maior escalabilidade e repetibilidade de soluções, mantendo elevados padrões de qualidade e adaptando-se às exigências dos diferentes mercados. É uma abordagem que alia o melhor da engenharia e da arquitetura à inovação tecnológica, garantindo um futuro mais sustentável para o setor — e mais acessível para os cidadãos. O modelo híbrido betão/madeira tem sido uma das vossas apostas. Quais são as vantagens e limitações dessa solução? O modelo híbrido é uma das principais inovações que temos vindo a implementar e que reflete bem a nossa abordagem à construção industrializada. Esta solução combina a solidez estrutural do betão com as propriedades sustentáveis e leves da madeira de engenharia, resultando num sistema construtivo que é, simultaneamente, robusto, eficiente e ambientalmente responsável. Entre as principais vantagens, destacamos a redução significativa da pegada de carbono — até 60% quando comparado com edifícios construídos apenas em betão. Utilizamos apenas cerca de um terço do betão tradicional, complementado com madeira certificada, o que contribui para a circularidade dos materiais e menor impacto ambiental ao longo de todo o ciclo de vida do edifício. Quanto às limitações, é importante reconhecer que ainda existem barreiras culturais e técnicas à adoção em larga escala deste modelo. A regulamentação nem sempre acompanha a inovação, e há um caminho a percorrer em termos de formação de mão de obra especializada e adaptação de processos de licenciamento. No entanto, acreditamos que o futuro passa por aqui, e estamos comprometidos em liderar essa transição. BB Montijo / First Properties A escassez de habitação é uma realidade na Península Ibérica. Como é que a construção industrializada pode ajudar a resolver esse problema? A construção industrializada é uma das ferramentas mais eficazes para acelerar a resposta à escassez de habitação, sobretudo em contextos urbanos pressionados. Do ponto de vista da promoção, permite-nos colocar mais rapidamente no mercado produtos residenciais ajustados à procura e com maior controlo de custo e prazo — dois fatores críticos para garantir acessibilidade. Do ponto de vista da promoção, permite-nos colocar mais rapidamente no mercado produtos residenciais ajustados à procura A capacidade de desenvolver projetos com base em sistemas construtivos eficientes dá-nos a agilidade necessária para responder a oportunidades urbanas, tanto em centros como em zonas em crescimento. Ao mesmo tempo, permite escalar soluções com qualidade e repetibilidade, garantindo uma resposta mais ampla e consistente às necessidades de habitação. O conceito “First Studios” é uma resposta a essa realidade. Podem explicar como funciona e qual o público-alvo? O conceito "First Studios" surge como uma resposta inovadora às novas necessidades habitacionais e aos desafios da urbanização, especialmente em grandes centros urbanos onde o espaço é limitado e o custo da habitação se torna proibitivo. Este modelo baseia-se na lógica do micro-living: unidades habitacionais compactas, mas altamente funcionais, integradas em edifícios que disponibilizam áreas comuns alargadas e bem equipadas para uso partilhado. Funciona da seguinte forma: cada residente dispõe de um espaço privado otimizado — com todas as funcionalidades essenciais — e partilha, zonas de lazer, como salas de condomínio, ginásio, espaços de coworking ou áreas verdes com os restantes moradores. Este modelo favorece a criação de um ambiente de comunidade, estimulando a convivência e o uso eficiente dos recursos disponíveis, sem comprometer a privacidade. O público-alvo dos "First Studios" é maioritariamente composto por jovens profissionais, estudantes, nómadas digitais e casais em início de vida, ou seja, pessoas que valorizam a localização, a mobilidade, o design inteligente e a sustentabilidade. Trata-se de um segmento urbano, cosmopolita, exigente, que procura soluções práticas, acessíveis e alinhadas com um estilo de vida mais flexível e consciente. Além disso, este conceito permite uma versatilidade de aplicação: pode ser implementado em projetos residenciais, em regime de arrendamento, ou até conjugado com unidades de hotelaria. Esta flexibilidade torna o modelo atrativo também do ponto de vista do investimento, sendo adaptável a diferentes contextos urbanos, regiões e perfis de utilizadores. Freepik A industrialização pode, de facto, contribuir para reduzir o custo final da habitação para o consumidor? Sim, e esse é precisamente um dos grandes trunfos da industrialização enquanto ferramenta ao serviço da promoção imobiliária. Ao desenharmos os nossos projetos desde início para sistemas industrializados, conseguimos reduzir custos operacionais e minimizar ineficiências típicas da construção tradicional. Mas mais importante do que isso, conseguimos entregar produtos mais acessíveis sem comprometer a qualidade, o design ou a sustentabilidade. Além disso, a industrialização permite-nos planear melhor a rentabilidade do projeto, reduzindo o risco de derrapagens que acabam por ser refletidas no preço final para o consumidor. A longo prazo, os benefícios estendem-se também à operação: edifícios mais eficientes, com menor manutenção e maior durabilidade, significam custos totais mais baixos para quem vive ou investe. Têm projetos em Oeiras, Montijo, Guimarães, Gaia, Olhão e Tres Cantos. Que outros mercados (nacionais ou internacionais) estão nos vossos planos para os próximos anos? O nosso foco continuará a ser a Península Ibérica, onde já temos presença consolidada. Pretendemos alargar a nossa atuação em contextos urbanos com potencial de transformação e onde as nossas soluções — residenciais, turísticas ou de investimento — possam trazer valor acrescentado ao mercado local. Mais do que estar apenas nos centros das grandes cidades, procuramos oportunidades em zonas urbanas emergentes, bem conectadas e com procura sustentada. Estamos atentos a dinâmicas de mobilidade, reconversão urbana e novas formas de habitar, e é nesse cruzamento que queremos continuar a operar. Como é que o mercado espanhol tem reagido à construção híbrida e modular? A receção em Espanha tem sido francamente positiva. O mercado espanhol está cada vez mais recetivo a soluções inovadoras que permitam acelerar a resposta aos desafios urbanos e habitacionais, e a construção híbrida e modular tem-se afirmado como uma alternativa sólida à construção tradicional. Um bom exemplo disso é o projeto do B&B HOTEL Madrid Tres Cantos, promovido pela First Properties construído pela UTE (Unión Temporal de Empresas), entre a CASAIS ESPAÑA DE INGENIERIA Y CONSTRUCCIÓN S.L. (EIC) e a ACR CONSTRUCIONES, SAU,, que foi distinguido em 2024 nos prémios Re Think Hotel como um dos 10 melhores projetos de sustentabilidade e reabilitação hoteleira por executar. Este reconhecimento evidencia o potencial transformador da construção híbrida — não apenas pela rapidez de execução, mas também pela sua robustez, flexibilidade e desempenho ambiental. BB Tres Cantos/ First Properties A experiência em Espanha tem demonstrado que o modelo CREE — que combina betão e madeira de engenharia — é perfeitamente adaptável à realidade local, inclusive em edifícios com vários andares e funções diversas, como habitação, hotelaria ou espaços mistos. O mercado valoriza cada vez mais projetos que conseguem aliar eficiência, design e sustentabilidade — e é exatamente isso que levamos para Espanha. Quais são atualmente os maiores desafios à adoção em larga escala da construção industrializada? Um dos principais desafios é ainda a mudança de mentalidade no setor imobiliário. Enquanto promotores, sentimos que muitos stakeholders continuam presos a modelos convencionais, com receio de arriscar em soluções inovadoras, mesmo quando estas já demonstram vantagens objetivas. É um desafio de mudança sistémica — e é nesse processo que queremos estar na linha da frente. A nível regulamentar, os processos de licenciamento nem sempre acompanham a inovação. A legislação continua muitas vezes pensada para métodos construtivos tradicionais, o que pode dificultar ou atrasar a aprovação de projetos com componentes industrializados ou soluções híbridas. Por fim, a industrialização exige uma nova abordagem à cadeia de valor: desde o projeto até à obra, passando pela engenharia, arquitetura e fabrico. Isso implica formação técnica especializada, digitalização e uma maior integração entre todos os intervenientes. É um desafio de mudança sistémica — e é nesse processo que queremos estar na linha da frente. BB Porto Gaia/ First Properties Qual é o grande objetivo da First Properties para os próximos 5 anos? O nosso principal objetivo para os próximos cinco anos é afirmar a First Properties como uma referência em promoção imobiliária sustentável e industrializada. Queremos liderar a transformação do setor, demonstrando que é possível construir mais e melhor — de forma mais rápida, eficiente e com menor impacto ambiental. Queremos reforçar a nossa presença em Portugal e Espanha, expandindo o número e a escala dos projetos residenciais, turísticos e de investimento que desenvolvemos, sempre com foco na inovação, sustentabilidade e qualidade. Paralelamente, pretendemos reforçar o nosso posicionamento B2C, consolidando uma marca reconhecida pela inovação, pela qualidade dos seus projetos e pelo impacto positivo que gera nas comunidades onde atua. Nos próximos anos, continuaremos a investir na digitalização, na sustentabilidade e na colaboração com parceiros estratégicos, com o objetivo de desenhar soluções integradas, flexíveis e orientadas para o futuro. Fonte: Menos tempo, mais casas: “Industrializar é das ferramentas mais eficazes” — idealista/news Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado