Casas vazias: O grande enigma da habitação em Portugal Casas vazias continuam a aumentar em Portugal; existem 250 mil em bom estado, mas sem ocupação, agravando o problema da falta de habitação. 24 jul 2025 min de leitura Casas vazias são atualmente um dos maiores enigmas do mercado habitacional em Portugal. Em pleno século XXI, num contexto de rendas elevadas, dificuldade de acesso à habitação e milhares de famílias com necessidades não satisfeitas, a existência de centenas de milhares de casas vazias levanta importantes questões a governantes, especialistas e cidadãos. O problema das casas vazias está no centro do debate público e político, sendo fundamental para compreender o futuro do parque habitacional nacional e o caminho das políticas públicas. Segundo dados oficiais do Censos 2021, existem 723.215 casas vazias em território nacional, o que representa 12,1% do total de alojamentos clássicos. A maioria destes imóveis está em bom estado de conservação e habitabilidade: cerca de 485.000 casas não necessitam de obras ou apenas requerem pequenas intervenções. Este dado, por si só, desafia o senso comum de que a inatividade do parque habitacional está limitada a edifícios em ruínas ou localizações remotas. Destaca-se uma realidade assustadora: das casas em bom estado, apenas 236.927 estão no mercado de venda ou arrendamento. Quase 250.000 imóveis prontos a habitar estão vazios por outras razões. Estas causas englobam desde a espera por processos de herança, ausência de sucessores, questões jurídicas, até situações de desinteresse por parte dos proprietários, especulação imobiliária, ou expectativa de valorização futura. Em muitos casos, a casa permanece fechada porque o seu dono prefere aguardar melhores oportunidades de mercado, não confia na estabilidade legislativa sobre arrendamento, ou teme os riscos associados a inquilinos. Esta abundância de casas desocupadas é especialmente visível nas zonas urbanas, onde a pressão habitacional é mais sentida. Lisboa, por exemplo, apresenta quase 15% do seu parque habitacional vazio, traduzindo-se em cerca de 48 mil imóveis sem ocupação, mesmo sendo uma das cidades portuguesas onde mais se sente a falta de oferta de habitação. Impacto social e económico das casas vazias A pergunta impõe-se: como pode existir simultaneamente tanta falta de casas acessíveis e tantas casas vazias? Este paradoxo tem impacto direto nos preços das casas, na gentrificação de alguns bairros e no agravamento da exclusão social. O stock devoluto é, em grande medida, subaproveitado, tornando-se um ativo financeiro para muitos proprietários, principalmente pequenos investidores e famílias que viram no imobiliário uma aplicação segura. Escassez de oferta e aumento dos preços de venda e arrendamento estão intimamente ligados à mobilização insuficiente do parque de casas vazias. Mesmo perante incentivos pontuais, muitos proprietários mantêm-se reticentes, receando mudanças legislativas, burocracias ou dificuldades associadas à gestão de contratos de arrendamento. Por outro lado, os custos de reabilitação, os impostos sobre património e a falta de incentivos fiscais eficazes são barreiras à mobilização destes imóveis para o mercado. A situação é agravada pelo envelhecimento da população e a fragmentação das heranças. Muitos imóveis ficam bloqueados em processos sucessórios prolongados, esperando indefinidamente a resolução de partilhas familiares. Noutros casos, as casas ficam associadas a memórias e os herdeiros preferem mantê-las fechadas. Desafios na mobilização das casas vazias Resolver a crise das casas vazias obriga a uma atuação firme em múltiplas frentes. Uma delas é a compreensão aprofundada dos motivos que levam à inatividade de tantos imóveis em boas condições. Recomenda-se o envolvimento de autarquias, institutos públicos e comunidades académicas na identificação das causas, bem como na definição de medidas eficazes. Entre as estratégias sugeridas encontram-se incentivos fiscais para arrendamento de longa duração, agilização de processos de herança, penalização de longo prazo para imóveis desocupados, criação de bolsas municipais de habitação e investimento na reabilitação. Além disso, começam a surgir iniciativas tecnológicas e cívicas para mapear as casas vazias, como aplicações colaborativas que permitem identificar imóveis devolutos e sensibilizar os poderes públicos. Esta mobilização cidadã visa pressionar decisores a adotar políticas que recuperem o património habitacional subutilizado e revertam o absurdo de haver tantas casas sem residentes ao mesmo tempo que milhares de pessoas procuram um teto. Prospetivas e o papel das políticas públicas O governo português já anunciou a intenção de apresentar medidas para combater o problema, com destaque para programas de arrendamento acessível, levantamento cadastral dos imóveis devolutos e intervenção direta em casos críticos de abandono. A aposta passa também pela promoção de maior segurança jurídica no arrendamento e pela fiscalidade positiva para quem coloca casas desocupadas no mercado. Apesar das dificuldades, existe um consenso: só será possível enfrentar o problema das casas vazias com uma abordagem integrada, pragmática e colaborativa, que envolva Estado, autarquias, proprietários e a sociedade civil. É urgente transformar o potencial inexplorado das casas vazias numa solução concreta para a crise habitacional, revertendo o ciclo de exclusão e inatividade que tem marcado o setor. Portugal tem casas – o grande desafio é pô-las ao serviço de quem delas precisa, garantindo o direito à habitação e promovendo cidades mais justas, inclusivas e dinâmicas. O futuro do mercado habitacional passará, inevitavelmente, pela resposta que sociedade e governos forem capazes de dar ao enigma das casas vazias. Fonte: Casas vazias: O grande enigma da habitação em Portugal - SUPERCASA Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado