Com o mercado imobiliário a manter-se dinâmico nas grandes cidades portuguesas, os bairros mais inclusivos e diversos — tradicionalmente associados à comunidade LGBTI — continuam entre os mais procurados, tanto por residentes nacionais como por compradores e arrendatários estrangeiros. Príncipe Real, Arroios, Marvila ou Almada, em Lisboa, e Cedofeita, Bonfim ou Campanhã, no Grande Porto, destacam-se não apenas pela oferta cultural e urbana, mas sobretudo pelo ambiente seguro que proporcionam. Por ocasião do 'Pride Month' ("Mês do Orgulho"), o idealista/news volta a analisar em 2025 as tendências e evolução de preços, para saber quanto custa comprar ou arrendar casa nestas zonas.

Viver num bairro LGBTI friendly é, cada vez mais, sinónimo de qualidade de vida. A crescente valorização destes espaços resulta não só da sua localização e infraestruturas, mas também de um estilo de vida inclusivo, onde a diversidade é assumida e respeitada como parte do tecido social. “As questões da visibilidade e da segurança são essenciais para que um bairro seja considerado ‘gay-friendly’”, explica João Passos, consultor e responsável pelo projeto LisboaPride. 

bairros LGBTI+
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“A existência de, por exemplo, casais do mesmo sexo a viver no bairro e a fazer a sua vida de forma natural sem problemas, e a celebração pública de membros de relevo da comunidade (nomes de ruas, de equipamentos municipais, de parques ou jardins, arte urbana, etc..), contribuem para uma sensação de pertença. Fatores políticos, como a representatividade ao nível das juntas de freguesia, são relevantes, especialmente se resultarem em políticas locais inclusivas, com ações educativas sobre diversidade. E, por fim, a presença de uma população aberta, cosmopolita e progressista, com um elevado grau de literacia sobre temas de género e sexualidade, contribui decisivamente para o reconhecimento de determinado bairro como “gay-friendly””, salienta. 

Um bairro LGBTI friendly "não é apenas aquele onde existem bares ou eventos queer. É um espaço onde a diversidade é respeitada em todos os níveis: onde casais do mesmo sexo se sentem confortáveis a viver abertamente, onde há representação em espaços culturais, onde os serviços locais são inclusivos e onde a comunidade local tem consciência social. A educação, a atitude dos vizinhos, o policiamento não discriminatório — tudo isso conta”, acrescenta João Santos, consultor na João das Casas Imobiliária, no Grande Porto.

Mas, afinal, quanto custa hoje comprar ou arrendar casa nestes bairros reconhecidos pela sua abertura à comunidade LGBTI? E que tendências marcam os mercados de Lisboa e do Porto em 2025, ano em que o Europride, maior evento LGBTI+ na Europa se realiza pela primeira vez em Portugal, na capital, e com o apoio do idealista.

Bairros LGBTI friendly 2025

A evolução dos preços nas zonas tradicionalmente associadas à comunidade LGBTI confirma uma tendência que já não é apenas social ou cultural, mas também económica: bairros diversos, seguros e inclusivos tendem a valorizar mais. Lisboa lidera em termos de valorização absoluta, com zonas como Marvila ou Arroios a consolidarem-se como polos emergentes. A Margem Sul ganha terreno com uma procura crescente e preços ainda acessíveis. 

No Porto, Cedofeita e Bonfim continuam a marcar o ritmo da diversidade, mas Campanhã, Antas e Paranhos começam a conquistar o seu espaço — com potencial de crescimento e melhor qualidade de vida.

bairros LGBTI+
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Grande Lisboa: valorização e descentralização

Em Lisboa, os bairros clássicos como Príncipe Real e Arroios mantém-se como zonas de destaque para a comunidade LGBTI. 

Casas na Misericórdia, Lisboa

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta -3% 203%
Procura 27% -65%
Preço unitário (euros/m2) 7 083 € 29,2 €
Variação preço unitário 5% 11%
Preço (euros) 560 000 € 1 650 €
Variação preço -7% -13%

Últimos três meses terminados em maio
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Dados do idealista/data até maio de 2025, face ao período homólogo, mostram que a freguesia da Misericórdia (Príncipe Real) registou um aumento na procura de casas para comprar (+27%) e uma quebra no volume de oferta (-3%). O custo mediano da habitação ronda agora os 560.000 euros. Já no mercado de arrendamento, observa-se uma subida da oferta (203%) e uma quebra na procura (-65%). O preço de uma casa para arrendar está nos 1.650 euros mensais. 

Casas em Arroios, Lisboa

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta -9% 147%
Procura 11% -58%
Preço unitário (euros/m2) 5 744 € 25,4 €
Variação preço unitário 7% 12%
Preço (euros) 498 000 € 1 700 €
Variação preço 4% -4%

Últimos três meses terminados em maio
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Em Arroios, a procura de casa para comprar aumentou, observando-se uma variação de 11%. Já no que diz respeito ao arrendamento, os dados mostram uma descida (-58%). Comprar uma casa nesta zona tem agora um custo mediano de 498.000 euros; já para arrendar será preciso desembolsar em torno de 1.700 euros por mês. 

Casas em Marvila, Lisboa

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta -3% 55%
Procura 26% -58%
Preço unitário (euros/m2) 5 747 € 21,4 €
Variação preço unitário 29% -1%
Preço (euros) 735 179 € 1 600 €
Variação preço 91% -3%

Últimos três meses terminados em maio
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Zonas como Marvila confirmam-se como apostas seguras e em ascensão, graças à reabilitação urbana, nova construção e uma oferta cada vez mais interessante para jovens profissionais e investidores, segundo João Passos. “Marvila consolidou-se como zona emergente. Tem beneficiado de vários projetos de reabilitação, novo comércio alternativo e da melhoria das infraestruturas”, refere.

Comprar casa nesta freguesia está mesmo mais caro que há um ano. Em Marvila, o custo mediano da habitação disparou 91%, para 735.179 euros. Já as rendas rondam os 1.600 euros mensais.

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De acordo com o consultor, outros bairros emergentes em Lisboa “incluem o Beato, com um perfil industrial e foco tecnológico; Penha de França e Graça, valorizados pela vista e charme histórico; e Intendente, que continua atrativo após um processo de gentrificação”. “Alcântara mantém potencial com a LX Factory e vários projetos, e Campolide destaca-se como zona discreta, mas promissora”, indica. 

Margem Sul do Tejo, com destaque para Almada e Caparica, continua a oferecer preços mais acessíveis, mas com tendência clara de valorização. O consultor adianta que a tendência de descentralização continua, com mais pessoas a procurar zonas emergentes com qualidade de vida. 

Casas em Almada - Cova da Piedade - Pragal - Cacilhas, Setúbal

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta -51% 31%
Procura 191% -41%
Preço unitário (euros/m2) 3 000 € 14,5 €
Variação preço unitário 6% 18%
Preço (euros) 289 000 € 1 200 €
Variação preço 16% 23%

Últimos três meses terminados em maio
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Nesta freguesia, verifica-se um aumento na procura de casas para comprar (+191%). O preço registou uma variação de +16% face ao período homólogo e quem quiser viver em Almada em casa própria terá agora de gastar em torno de 289.000 euros. Já para arrendar uma habitação nesta zona será preciso pagar cerca de 1.200 euros mensais (+23%).

Casas na Caparica e Trafaria , Setúbal

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta -35% 73%
Procura 169% -57%
Preço unitário (euros/m2) 3 091 € 15,1 €
Variação preço unitário 18% 13%
Preço (euros) 285 500 € 1 100 €
Variação preço 52% 12%

Últimos três meses terminados em maio
Fonte: idealista/dataDescarregar estes dadosIncorporar Descarregar imagemCriado com Datawrapper

Face há um ano, na Caparica destaca-se igualmente o aumento da procura de casas para comprar (+169%) e a redução no arrendamento (-57%). Comprar ou arrendar está mais caro que há um ano: os preços subiram em ambos os mercados. Segundo os dados, comprar casa tem um custo mediano de 285.500 euros; já para arrendar, o valor ronda os 1.100 euros por mês.

  • Investimento: perfil da procura e impacto geopolítico 

De acordo com o consultor imobiliário, nos últimos 12 meses, “os compradores portugueses lideraram os investimentos em reabilitação urbana, impulsionados por juros mais baixos e pela estabilidade do mercado". "Além disso, as ajudas do estado aos jovens originaram um aumento grande na procura de imóveis até aos 450.000 euros”, revela. Já a nível internacional, refere, a base de clientes “continua fortemente assente nos mercados dos EUA, com algum interesse da parte de canadianos, franceses, alemães, holandeses e britânicos”.

João Passos garante que a nova realidade política, tanto em Portugal como internacionalmente, “tem tornado os compradores estrangeiros mais sofisticados e estratégicos”. “Com o fim do Golden Visa para habitação em Lisboa, alguns interessados estão a virar-se para os fundos de investimento como forma de obter a autorização de residência. A instabilidade global (EUA, América Latina, Brexit, Leste Europeu, Médio Oriente) reforça Portugal como destino seguro. O perfil do comprador encontra-se assim mais diversificado, mudando de apenas 'comprador de apartamento' para investidores com visão de longo prazo”, conclui.

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Grande Porto: alternativa mais acessível à capital

No Grande Porto, Cedofeita e Bonfim mantêm-se como os bairros de referência para a comunidade LGBTI, com uma combinação única de cultura, diversidade e localização central. “São bairros onde coexistem arte urbana, comércio local vibrante e uma população jovem e cosmopolita”, revela João Santos. 

Casas no Bonfim, Porto

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta 58% 234%
Procura -24% -72%
Preço unitário (euros/m2) 3 760 € 23,0 €
Variação preço unitário 7% 27%
Preço (euros) 355 000 € 1 200 €
Variação preço 27% 4%

Últimos três meses terminados em maio
Fonte: idealista/dataDescarregar estes dadosIncorporar Descarregar imagemCriado com Datawrapper

Comprar uma casa no Bonfim está mais caro (+27%) e tem agora um custo mediano de 355.000 euros. Já para arrendar casa serão precisos 1.200 euros mensais. Destaque para o stock de casas disponíveis para arrendamento, que aumentou 234% num ano.

Casas na Cedofeita - Santo Ildefonso - Sé - Miragaia - São Nicolau - Vitória, Porto

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta -6% 254%
Procura 56% -73%
Preço unitário (euros/m2) 4 733 € 22,7 €
Variação preço unitário 12% 7%
Preço (euros) 375 000 € 1 200 €
Variação preço 3% 0%

Últimos três meses terminados em maio
Fonte: idealista/dataDescarregar estes dadosIncorporar Descarregar imagemCriado com Datawrapper

O custo mediano para comprar casa na Cedofeita subiu 3%, rondando agora os 375.000. Já o gasto mensal com a renda de uma casa está nos 1.200 euros. Face há um ano, o stock de casas disponíveis caiu 6% no mercado de compra e venda e subiu 254% no arrendamento.

“Os preços têm subido de forma geral, mas começamos a ver um ligeiro abrandamento no crescimento, especialmente no arrendamento. Em algumas zonas centrais muito pressionadas pelo turismo, como Cedofeita, há sinais de correção, enquanto outras zonas, como Campanhã, continuam em valorização devido a obras de requalificação e novos empreendimentos”, aponta o especialista.

Casas em Campanhã, Porto

Preços medianos dos apartamentos
Variações entre maio de 2025 e o período homólogo

Table with 3 columns and 6 rows. (column headers with buttons are sortable)
  Venda Arrendamento
Oferta 26% 141%
Procura 20% -64%
Preço unitário (euros/m2) 3 654 € 16,9 €
Variação preço unitário 6% 4%
Preço (euros) 368 835 € 1 100 €
Variação preço 18% -4%

Últimos três meses terminados em maio
Fonte: idealista/dataDescarregar estes dadosIncorporar Descarregar imagemCriado com Datawrapper

Em Campanhã, o stock de casas disponíveis aumentou em ambos os mercados: 26% na compra e venda e 141% no arrendamento. De acordo com os dados, comprar casa nesta zona tem agora um custo mediano de 368.835 euros. Já para arrendar os preços rondam os 1.100 euros por mês. 

Segundo o responsável da João das Casas Imobiliária, começa a assistir-se, paralelamente, a um movimento para zonas com maior qualidade de vida e algum afastamento do centro turístico intenso — como Paranhos ou a zona das Antas. Bairros que “oferecem boa acessibilidade, mais tranquilidade e, muitas vezes, preços mais competitivos, o que atrai especialmente jovens profissionais e casais LGBTI que buscam estabilidade”.

bairros LGBTI+
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Relativamente às nacionalidades que procuram o Porto como destino de residência ou investimento, o consultor refere que “há uma diversificação crescente”. “Tradicionalmente, franceses e brasileiros eram predominantes, mas hoje recebemos também pedidos de italianos, alemães, norte-americanos e até residentes da Europa de Leste e do Médio Oriente — muitos deles procurando refúgio em países mais abertos e tolerantes como Portugal. A comunidade LGBTI está representada em várias dessas nacionalidades, e o Porto destaca-se como destino alternativo a Lisboa, com charme próprio e custos mais acessíveis”.
Fonte: Viver nos bairros arco-íris 2025: o custo de comprar ou arrendar — idealista/news