Brasileiros abrem imobiliária em Portugal: “AIMA precisa de reforma urgente” Agente imobiliária e advogado brasileiros deram o salto do Youtube para o imobiliário. E contam a sua história ao idealista/news. 09 jun 2025 min de leitura A vontade de viver com segurança e qualidade de vida levou Mônica Rodrigues e Dhones Markes Batista de Sousa a trocar o Brasil por Portugal, há cerca de quatro anos, onde inauguraram o canal do Youtube dedicado a partilhar a experiência de viver em território luso, o Vivendo em Portugal - que soma perto de 50 mil seguidores. As histórias são muitas e a mudança de país não foi fácil. “O primeiro grande desafio foi o arrendamento” e, depois, depararam-se com um entrave ainda maior: “A demora por parte da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) na emissão da documentação”, conta o casal em entrevista ao idealista/news. E não eram os únicos imigrantes a enfrentar estas dificuldades. Receberam tantos pedidos de ajuda para arrendar casa e obter autorização de residência em Portugal através do canal que perceberam que, afinal, havia a oportunidade de trabalhar nas suas áreas profissionais. Ela agente imobiliária com 15 anos de experiência no mercado brasileiro e ele advogado, decidiram então abrir, no início de maio, a mediadora imobiliária Vivendo em Portugal Imóveis, em Vagos, distrito de Aveiro, a localidade na zona norte que os acolheu desde o primeiro dia. "É fundamental investir na reestruturação urgente da AIMA, garantindo mais eficiência, transparência e agilidade na concessão de autorizações de residência" Agora, o casal dedica-se a apoiar outras famílias brasileiras (mas também portuguesas e de outras nacionalidades) ao comprar e arrendar casa em Portugal. E têm ainda um serviço complementar de assessoria jurídica que para ajudar outros imigrantes a obter autorizações de residência no país, um processo que tem “enfrentado desafios significativos, sobretudo em termos de morosidade e falta de clareza nos procedimentos”, indica Dhones Batista de Sousa. É por tudo isto que o casal fundador da Vivendo em Portugal Imóveis (em parceria com a antiga cliente Cristiane Leiva da Silva) deixa uma mensagem clara ao novo Governo: “É fundamental investir na reestruturação urgente da AIMA, garantindo mais eficiência, transparência e agilidade na concessão de autorizações de residência. Além disso, seria importante criar políticas habitacionais que favoreçam tanto os residentes como os recém-chegados, promovendo acesso justo à habitação e um ambiente de integração saudável para todos”, apontam ainda em entrevista ao idealista/news. Freepik O que vos motivou vir viver para Portugal? Que desafios encontraram à chegada (procura de casa, emprego, obtenção de residência…)? Mônica Rodrigues [MR]: Apesar de termos uma vida relativamente estável no Brasil, sentíamos que algo nos faltava — procurávamos uma qualidade de vida mais equilibrada, segurança e a possibilidade de explorar novas culturas e experiências. Portugal surgiu como uma escolha natural: um país com afinidades culturais, clima ameno e que também serviria de ponto de partida para desbravar a Europa. Logo à chegada, o primeiro grande desafio foi o arrendamento. Encontrar uma casa para arrendar, especialmente sem histórico de rendimentos no país, revelou-se mais complicado do que imaginávamos. Em seguida, veio a parte documental. Felizmente, o Dhones é advogado e já se tinha preparado previamente, estudando a fundo os procedimentos legais para a obtenção de residência. Isso facilitou bastante o processo em termos de conhecimento, mas não nos livrou da morosidade burocrática — o maior entrave foi, sem dúvida, a demora por parte da AIMA na emissão da documentação, o que exigiu paciência e resiliência. "Inicialmente, o nosso foco era o público brasileiro que desejava viver em Portugal (...) No entanto, os resultados superaram as nossas expectativas: acabámos por alcançar pessoas de diversos países, inclusive portugueses" Como surgiu a ideia de criarem o canal de Youtube “Vivendo em Portugal” há cerca de 4 anos? Estão noutras redes sociais? MR: Desde antes de deixarmos o Brasil, já alimentávamos a ideia de criar um canal no Youtube. Sabíamos que, ao chegar a Portugal, seria pouco provável atuarmos de imediato nas nossas áreas profissionais — especialmente considerando os desafios iniciais de adaptação. Inicialmente, o propósito do canal “Vivendo em Portugal” era simples: partilhar a nossa experiência de viver em território luso sob a nossa própria ótica, mostrando a realidade do dia a dia, os encantos e as dificuldades de quem decide recomeçar do zero. Com o tempo, o canal foi ganhando visibilidade, e começámos a receber muitas perguntas e pedidos relacionados às nossas áreas de atuação. Foi aí que percebemos que havia uma grande oportunidade de unir conteúdo com a prestação de serviço — sempre com responsabilidade e proximidade com o público. Hoje, o canal já conta com quase 50 mil inscritos e continua a crescer de forma orgânica. Além do Youtube, também estamos presentes no Instagram e TikTok, onde mantemos uma ligação mais direta com quem nos acompanha e partilhamos dicas, bastidores e conteúdos do nosso quotidiano. Quais foram os vossos principais objetivos e target? Estão satisfeitos com os resultados? MR: Inicialmente, o nosso foco era o público brasileiro que desejava viver em Portugal, partilhando informações práticas e a nossa experiência pessoal. No entanto, os resultados superaram as nossas expectativas: acabámos por alcançar pessoas de diversos países — inclusive portugueses — que hoje procuram-nos como clientes através do canal e das redes sociais. Sem dúvida, estamos muito satisfeitos com a repercussão e com o impacto positivo que geramos. Canal do Youtube "Vivendo em Portugal"Créditos: Canal do Youtube "Vivendo em Portugal" Quais as diferenças e semelhanças entre o mercado imobiliário português e brasileiro? MR: No Brasil, a profissão de consultor imobiliário exige uma formação técnica específica de cerca de dois anos, ao final da qual o profissional recebe o registo no CRECI [Conselho regional de Fiscalização do profissional Corretor de Imóveis no Brasil] — equivalente à licença AMI [Alvará de Mediação Imobiliária] em Portugal. Já em Portugal, essa exigência formal não é a mesma, o que facilita o acesso à profissão, mas por outro lado dificulta a criação de parcerias entre consultores. Outra grande diferença é a angariação: no Brasil, os proprietários valorizam o trabalho das imobiliárias e fazem questão de anunciar os seus imóveis com profissionais. Aqui, esse processo costuma ser mais reservado e moroso. Quanto às semelhanças, em ambos os países o mercado valoriza cada vez mais o profissionalismo, o conhecimento jurídico e a transparência no processo de compra e venda, especialmente quando lidamos com estrangeiros. "A maioria dos nossos clientes são brasileiros, mas também atendemos muitos portugueses e estrangeiros vindos dos Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda e até do Japão" Porque decidiram avançar com a empresa de mediação imobiliária “Vivendo em Portugal Imóveis”? Como está a correr o negócio (arrendamento e compra)? MR: Após quatro anos a atuar online, sobretudo com arrendamentos na modalidade de ‘relocation’, começámos a ser procurados por clientes antigos que ajudámos instalarem-se em Portugal através do arrendamento, que, entretanto, decidiram comprar um imóvel connosco. Com o aumento da procura, tanto de estrangeiros como de portugueses, percebemos a necessidade de dar um passo além — criámos a “Vivendo em Portugal Imóveis” com espaço físico para atender melhor as famílias. A empresa tem crescido de forma sólida, com bons resultados tanto no arrendamento como na compra e venda, e também com o propósito de valorizar o país que nos acolheu. A escolha da cidade de Vagos não foi por acaso? Por que motivo instalaram a vossa imobiliária nesta cidade do distrito de Aveiro? MR: Vivemos em Vagos há cerca de quatro anos e criámos uma forte ligação com a cidade. Sempre valorizámos a vida em localidades mais pequenas — no Brasil também vivíamos assim — e apreciamos o contacto próximo com a comunidade. Por isso, decidimos instalar a nossa imobiliária aqui, como forma de retribuir o acolhimento que recebemos e contribuir para o desenvolvimento local de um lugar que já consideramos o nosso lar. Vivendo em Portugal Imóveis abriu em Vagos no início de maioCC_by-sa_2.0_by_vitor_oliveira Quem são os vossos principais clientes em termos de segmento e nacionalidade? E o que é que mais procuram (arrendar/comprar/preço, localização…)? MR: A maioria dos nossos clientes são brasileiros, mas também atendemos muitos portugueses e estrangeiros vindos dos Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda e até do Japão. Inicialmente, o foco era o arrendamento, especialmente para quem chegava ao país, mas hoje temos direcionado grande parte do trabalho para o mercado de vendas. Atuamos em todo o território nacional, tanto na procura de imóveis para clientes como através de parcerias com outras imobiliárias espalhadas pelo país. Além de imobiliária, também oferecem assessoria jurídica a imigrantes para obter vistos e documentos. Por que decidiram dar este passo? Dhones Markes Batista de Sousa [DS]: No início, ajudava na parte imobiliária, e muitos clientes procuravam-nos também com dúvidas sobre documentação. Na altura, indicávamos advogados parceiros, até que decidi aproveitar a minha formação jurídica no Brasil e inscrevi-me na Ordem dos Advogados em Portugal, através do acordo de reciprocidade que esteve em vigor até 2023. Desde então, passei a atuar oficialmente como advogado cá, prestando assessoria jurídica especializada em imigração, de forma a complementar o nosso trabalho na imobiliária, mas também desenvolvendo este serviço de forma independente. "É urgente uma reforma nos sistemas de agendamento, mais transparência e maior investimento em recursos humanos e tecnológicos por parte da AIMA" Como avaliam o processo de obtenção de vistos de residência em Portugal? Como é a vossa experiência com a AIMA até agora? O que precisa de ser mudado para agilizar os processos? DS: O processo de obtenção de vistos e de autorização de residência em Portugal tem enfrentado desafios significativos, sobretudo em termos de morosidade e falta de clareza nos procedimentos. A criação da AIMA trouxe alguma expectativa de melhoria, mas até agora temos sentido atrasos prolongados, dificuldade de comunicação e falta de resposta efetiva aos pedidos dos imigrantes, o que afeta diretamente a vida das pessoas e o planeamento familiar e profissional de quem decide viver legalmente no país. Enquanto advogado tenho acompanhado de perto casos de clientes que cumprem todos os requisitos legais, mas ainda assim enfrentam entraves injustificáveis para obter ou renovar a sua documentação. É urgente uma reforma nos sistemas de agendamento, mais transparência e maior investimento em recursos humanos e tecnológicos por parte da AIMA, para garantir um serviço público digno, eficiente e em conformidade com os direitos fundamentais dos imigrantes. Freepik Como avaliam a atual situação do mercado imobiliário em Portugal? MR: O mercado imobiliário em Portugal tem mostrado um crescimento contínuo nos últimos anos. No entanto, com o fim da possibilidade de regularização através da manifestação de interesse, notámos uma queda acentuada na procura por arrendamentos, o que se refletiu numa ligeira baixa nos preços, seguida de uma fase de estabilização. Essa é uma perceção baseada na nossa experiência direta no setor, especialmente no atendimento a estrangeiros que procuram iniciar a vida no país. Apesar dessas oscilações, o mercado continua dinâmico e com boas oportunidades, principalmente no segmento de compra. "Seria importante criar políticas habitacionais que favoreçam tanto os residentes como os recém-chegados" Que pedido fariam ao futuro Governo? DS: Que olhe com mais atenção para a realidade dos imigrantes e para o impacto direto que a morosidade dos processos legais tem na vida de milhares de famílias. É fundamental investir na reestruturação urgente da AIMA, garantindo mais eficiência, transparência e agilidade na concessão de autorizações de residência. Além disso, seria importante criar políticas habitacionais que favoreçam tanto os residentes como os recém-chegados, promovendo acesso justo à habitação e um ambiente de integração saudável para todos. Quais são as vossas perspetivas de futuro para a “Vivendo em Portugal Imóveis”? MR: Neste momento, o nosso foco é consolidar a presença da empresa na região onde abrimos a nossa primeira loja física. Queremos crescer com responsabilidade, mantendo o modelo híbrido que já conhecemos bem — unindo o atendimento presencial ao trabalho online, que continua a ser uma ferramenta poderosa e com grande alcance. A médio e longo prazo, temos o sonho de abrir novas unidades, sempre com os pés bem assentes na terra e confiando no potencial que Portugal ainda tem para oferecer. Fonte: Brasileiros abrem imobiliária em Portugal e pedem “reforma urgente da AIMA” — idealista/news Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado