Alexandre Gama: como o feng shui integrativo influencia a nossa casa

O Feng Shui é mais do que uma simples técnica de organização de espaços. Trata-se de uma arte milenar que visa criar ambientes equilibrados, onde a energia flui de forma harmoniosa, influenciando diretamente o nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida. Para Alexandre Gama, referência nacional nesta área, o Feng Shui é “uma arte de organizar e criar espaços de modo que os possamos viver com a maior eficácia, eficiência, conforto e segurança”. A sua abordagem integrativa vai além da disposição dos móveis ou da escolha das cores, procurando compreender a ligação profunda entre a energia dos espaços e as pessoas que os habitam.

Com um olhar atento e uma sensibilidade rara para perceber as nuances da energia, Alexandre Gama tornou-se um verdadeiro catalisador de espaços. Mais do que simplesmente reorganizar ambientes, ele cria lugares onde as pessoas se sentem realmente bem, equilibradas e em sintonia com a sua essência. A sua jornada no Feng Shui nasceu da curiosidade e da vontade de compreender melhor a ligação entre os espaços e as emoções, levando-o a aprofundar os seus conhecimentos não só no Feng Shui clássico, mas também na vertente astrológica japonesa, conhecida como Ki das Nove Estrelas. Esta abordagem permite-lhe interpretar a energia de cada espaço e de quem o habita, ajudando as pessoas a transformarem as suas casas em refúgios de harmonia.

Nesta entrevista, exploramos com Alexandre Gama como o Feng Shui pode ser aplicado de forma prática na organização da casa e na escolha do lar ideal. Se estás à procura de um novo espaço ou simplesmente queres tornar a tua casa mais harmoniosa, esta conversa vai ajudar-te a perceber como pequenos ajustes podem trazer um grande impacto na tua vida.

Qual a diferença entre o Feng Shui Integrativo e o Feng Shui tradicional?

O Feng Shui Integrativo foi um nome que escolhi para representar a minha abordagem. Não se trata de uma invenção minha, mas de um conceito que me identifiquei. O Feng Shui chegou até mim como uma técnica de decoração ou organização de espaços, mas, na escola onde estudei, o Instituto Macrobiótico de Portugal, compreendi que está interligado com outras disciplinas. A macrobiótica é mais conhecida pela alimentação, mas também ensina Feng Shui, assim como o Shiatsu, que é uma terapia física, e a medicina tradicional chinesa, que trabalha o diagnóstico e tratamento do corpo através da fitoterapia ou da acupuntura. Todas essas disciplinas têm os mesmos pilares: o equilíbrio entre Yin e Yang, as cinco transformações e os nove números que representam as oito direções.

Com o tempo, fui percebendo que o Feng Shui não podia ser visto como uma disciplina isolada. Em consulta, muitas pessoas perguntavam se podiam escolher alimentos com base no Feng Shui ou se havia ligação entre a casa e a saúde. A resposta é sim. Por isso, utilizei o termo "Integrativo", pois o Feng Shui está interligado com um estilo de vida mais holístico e global.

Como funciona o Feng Shui na prática?

O Feng Shui parte do princípio de que tudo o que vivemos num espaço é influenciado pela forma como está organizado. As cores, os materiais, a disposição dos móveis dão uma determinada energia ao ambiente, influenciando a nossa vivência. No entanto, também somos nós a influenciar o espaço com a nossa energia.

Por exemplo, se chegamos a casa muito alegres, parece que as plantas ficam mais vibrantes. Se chegamos tristes ou cansados, sentimos que a casa também perdeu energia. E isso também acontece com as pessoas que partilham o mesmo espaço. Se vivemos com alguém muito positivo, a casa ganha essa energia. Se for o contrário, sentimos o peso no ambiente. Uma das primeiras lições que aprendi foi que não adianta um escritório perfeito se trabalhamos ao lado de um colega com quem não nos entendemos. Não é a secretária, a cor da parede ou a janela que fazem a diferença, mas sim a dinâmica entre as pessoas e o espaço.

Como o Feng Shui Integrativo pode ser útil para quem quer vender, comprar ou remodelar uma casa?

O primeiro ponto a ter em conta é que o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. No mercado imobiliário, nem sempre nos identificamos com um imóvel, mas ele pode vender-se rapidamente porque atende às necessidades de um perfil de cliente específico. Um bom profissional da área deve conhecer os hábitos e as necessidades dos seus clientes.

Por exemplo, alguém que passa o dia todo fora de casa precisa de um tipo de espaço diferente de quem trabalha em casa ou está reformado. Para quem vive intensamente o espaço, a qualidade da casa torna-se essencial. Já para quem apenas regressa a casa para dormir, fatores como localização podem ser mais relevantes.

Ao remodelar ou vender uma casa, é fundamental criar um ambiente equilibrado. Espaços excessivamente personalizados podem dificultar a venda, pois não permitem que outras pessoas se imaginem a viver ali. Por outro lado, um ambiente bem organizado e neutro pode acelerar o processo de venda. O Feng Shui é uma ferramenta flexível que pode ser aplicada de forma estratégica para tornar os espaços mais harmoniosos e atrativos. No entanto, mais do que o Feng Shui, é a vida que nos ensina a compreender e avaliar estas necessidades.

Como o Feng Shui influencia a distribuição dos espaços dentro de casa?

Existem princípios universais que o Feng Shui nos ajuda a compreender. Por exemplo, dentro da casa, tal como nos restaurantes existem circuitos limpos e sujos, também nos lares há circuitos de energia distintos.

Uma casa tem zonas sociais e zonas íntimas. Os quartos e a casa de banho têm uma energia diferente da cozinha ou da sala. Uma casa de banho dentro da cozinha não é funcional. Em casas mais antigas, onde as casas de banho foram adicionadas posteriormente, é comum encontrar situações pouco práticas, como instalações em anexos à cozinha. Enquanto uma pessoa cozinha, outra pode precisar de utilizar a casa de banho, criando um fluxo de energia inadequado.

A casa de banho, nos dias de hoje, não deve ser vista como uma latrina, como acontecia há cem anos. Com a evolução das canalizações e das infraestruturas modernas, portanto a casa de banho passou a ser um espaço de conforto e bem-estar, mas continua a necessitar de uma localização adequada dentro da casa.

O estilo de vida influencia a escolha de uma casa?

O estilo de vida é determinante na escolha de um imóvel. Uma casa para um jovem solteiro terá características diferentes de uma casa para um reformado. Da mesma forma, uma casa projetada para uma família com crianças pequenas terá outras necessidades, como espaços abertos e funcionais. O essencial é entender bem o público-alvo e adaptar a casa a quem irá habitá-la.

O que é mais importante na escolha de uma casa?

A casa é um reflexo da energia da pessoa que a habita. Muitas vezes, apaixonamo-nos por uma casa que precisa de obras porque conseguimos visualizar-nos a viver ali. Outras vezes, uma casa nova, cheia de acabamentos de luxo, pode não nos atrair.

O layout da casa é fundamental. Antes mesmo da decoração, o Feng Shui deve ser aplicado na arquitetura, garantindo que os espaços estão bem distribuídos e que cada acomodação favorece o bem-estar dos seus habitantes.

Que materiais as pessoas normalmente desconhecem ou não consideram para suas casas?

A expressão "Feng Shui" significa "vento e água" e refere-se aos fluxos energéticos dentro de um espaço. No entanto, não existem materiais específicos de Feng Shui. Materiais naturais são sempre preferíveis, pois têm uma vibração e conforto superiores. Exemplos incluem pedra, cimento, porcelana, barro, terracota, algodão, linho, madeira e cortiça. A madeira, por exemplo, é um material nobre que confere conforto e qualidade ao espaço.

Os materiais sintéticos, como acrílico e plástico, têm a sua função, mas não proporcionam o mesmo conforto ou qualidade energética. No entanto, há soluções híbridas que misturam fibras naturais com materiais sintéticos de alta qualidade, garantindo um equilíbrio entre conforto e praticidade.

O que influencia o feng shui de uma casa?

O feng shui de uma casa depende, antes de mais, da sua localização e do enquadramento no terreno. Idealmente, a casa deve estar com as costas protegidas (por uma montanha, árvores ou mesmo um prédio vizinho) e de frente para um espaço aberto, como um vale ou uma paisagem ampla. Este princípio aplica-se também ao mobiliário, como o posicionamento de um sofá com as costas contra a parede e de frente para a zona de movimento.

Os edifícios baixos e largos promovem uma energia mais familiar e humana, favorecendo a interação entre vizinhos, tal como acontece em bairros de moradias. Já os arranha-céus e prédios altos estimulam uma energia mais individualista, onde muitas vezes nem se conhecem os vizinhos do mesmo andar. A forma da construção afeta diretamente a vivência dos espaços.

Como a orientação da casa influencia o bem-estar?

A orientação da casa afeta diretamente a iluminação e o conforto térmico. Uma casa voltada para o norte, por exemplo, tende a ser menos confortável porque recebe menos luz solar direta, tornando-se mais fria e exposta a ventos. Na escola, aprendemos que todas as montanhas têm uma vertente rica, virada a sul, e uma vertente menos rica, virada a norte, justamente porque esta última tem uma temperatura mais agressiva, menos proteção e condições menos favoráveis para o crescimento de alimentos.

Da mesma forma, na planície, a orientação da casa faz toda a diferença. Num prédio com apartamentos em todas as direções. Os apartamentos virados a nascente têm muita luz de manhã, mas à tarde perdem-na completamente. Os apartamentos virados a sul recebem luz ao longo do dia, desde o final da manhã até ao meio da tarde. Os apartamentos virados a poente só recebem luz à tarde, ficando sombreados de manhã e ao meio-dia. Os apartamentos virados a norte nunca recebem luz direta, sendo zonas mais tranquilas.

Como a escolha da orientação deve ser feita consoante o estilo de vida?

Depende muito das necessidades de cada pessoa. Se alguém procura um espaço tranquilo para recolhimento, um apartamento a norte pode ser ideal. Se valoriza uma casa cheia de luz e energia, a melhor opção é uma casa virada a sul. Quem gosta de aproveitar a luz da manhã, especialmente para tomar o pequeno-almoço ao sol, deve escolher um apartamento a nascente. Já para quem só chega a casa ao final da tarde e quer desfrutar do pôr do sol, um apartamento a poente é a escolha certa. Diferentes orientações solares criam vivências distintas dentro de casa, influenciando até na escolha das cores.

De que forma a luz influencia as cores ideais para a casa?

A luz solar afeta a forma como percebemos as cores, e isso pode ser aproveitado para criar ambientes mais harmoniosos. Casas viradas a nascente recebem uma luz azulada de manhã e combinam bem com tons verdes e azuis, bem como com muitas plantas. Casas viradas a sul são mais luminosas e vibrantes, funcionando bem com cores intensas e flores. Casas viradas a poente recebem uma luz mais amarelada ao final do dia e harmonizam melhor com tons alaranjados, avermelhados e dourados, bem como com elementos brilhantes e sofisticados, como espelhos e vidros. São regras simples, mas eficazes. Claro que não é obrigatório mudar tudo, mas se houver dúvidas sobre a disposição da decoração, seguir essa lógica ajuda a criar um ambiente mais equilibrado.
Fonte:Entrevista a Alexandre Gama sobre o Feng Shui integrativo— idealista/news